PONTO ELETRÔNICO

Imagens revolucionárias

Posted in Video, Youth by mari messias on outubro 20, 2011

http://vimeo.com/30860332

No dia 15 de outubro pessoas de mais de 80 países saíram as ruas pra dizer que não estavam satisfeitos com a ordem econômica atual. No Brasil foram mais de 40 cidades se manifestando. Uma das reclamações específicas dos brasileiros foi a construção de Belo Monte, que ja deu resultado positivo.

E lembra que pedimos as imagens que vocês fizeram nas suas manifestações locais? Poisé, reunimos todas e mais algumas e magicamente transformamos nesse vídeo muito lindo (editado pelo Vinícius).

Traçando um paralelo com o documentário Images of Revolutions, disponibilizado ontem pela Al Jazeera, o que se vê também nessas imagens é euforia.

Quatro meses atrás comentamos aqui sobre Images of Revolutions, do cineasta egípcio Amr Salama, na época ainda em produção. O documentário une imagens feitas pela população e entrevistas com quem fez as imagens e, em alguns casos, com quem foi filmado. A idéia é demonstrar da maneira mais prática possível como essas imagens, a pulverização do controle das mídia e o acesso a internet foram fundamentais, fundadores mesmo, das revoluções árabes.

A noção de que as mídias sociais (e a capacidade de se comunicar trazida por ela) está mudando a política universal antecede essas revoltas, mas ainda é muito questionada. E o documentário ajuda a aumentar a força da idéia de que, se antes existia apenas uma imagem e uma mídia, que mantinham o cidadão distante, agora a coisa mudou de figura. E todos somos mídia, meio, texto, imagem e revolução, como nota a sociológa Zeynep Tufecki no seu texto Twitter and the Anti-Playstation Effect on War Coverage.

É como disse o Economist, as notícias estão voltando a ser um meio social. E mesmo quando tudo parece mais primitivo, quando uma idéia é transmitida por gritos e retransmitida pela internet para círculos fechados antes de, finalmente, alcançar o mundo todo, elas são notícias com maior credibilidade, por serem vividas, não assistidas e retransmitidas, apenas.

E aí está a força mobilizadora dessas imagens.

O documentário tem 40 minutos e, apesar de todo sofrimento que mostra, gera mais euforia que qualquer coisa. Mais ou menos como a euforia gerada pelos heróis-gente-comum dessas revoluções, ou como a euforia de um egípcio do documentário ao notar, vendo aquelas imagens (quase) em tempo real que podemos, sim, derrubar tiranos e líderes ruins.

É a euforia do futuro, diz outro egípcio.

Toda Líbia tem um pouco de Londres

Posted in Youth by mari messias on agosto 22, 2011

Supostamente a grande diferença entre a revolta Líbia, que culminou na tomada de Tripoli ontem e os riots ingleses, que começaram em Tottenham e se disseminaram pelo país duas semanas atrás, é ideologica. Isso altera o começo e o fim dos protestos e os colocaria em posições diferentes, se decidissemos fazer um grande cronograma das revoltas que tem tomado o mundo no último ano.

E digo supostamente por alguns motivos. O primeiro, claro, é porque os fios dessas meadas, como chegaram até mim, foram escritos por quem vê de fora, como eu, mas fisicamente mais de perto.

Além disso, lendo alguns textos sobre Londres, admito que vi um tanto de Líbia.

Por exemplo, no post do MindHacks sobre comportamentos de massa, eu li o estudo do psicológo Clifford Stott, segundo eles um dos poucos especialistas nesse campo. O Stott fala que todas essas crenças de desindividuação (que seria um processo no qual as pessoas se sentem tão imersas em um grupo que deixam de existir individualmente e passam a existir com uma espécie de personalidade coletiva), ainda que se mantenham populares, são cada vez menos corroborados cientificamente.

Segundo os estudos mais recentes, ainda que soframos influência do grupo, não nos tornamos irracionais nem perdemos a individualidade. É como se criassemos uma espécie de personalidade/ideologia de grupo que nos une frente uma ameaça em comum.

Além disso, os estudos do Stott chamam a atenção para a velha máxima: violência gera violência e só o amor constrói. Diante de respostas policiais violentas em uma manifestação pacífica, um maior número de manifestantes tenderia a se tornar violento.

Então, tanto no caso de Londres como da Líbia, o estouro de revoltas foi uma espécie de resposta popular contra um representante de Estado com o qual eles não concordariam e que agia de maneira violenta.

Mas aí, pensamos, Londres e Líbia teriam uma diferença de maturação. Os de lá agiram por uma influência imediata, enquanto os de cá tentaram se livrar de um sistema opressivo que durava mais de 4 décadas. Será?

Quando o Bauman fala de Londres ele diz que somos todos consumidores, por direito e dever. E que todas as variedades de desigualdade social derivam das divisões entre ter e não-ter. Seja pão, carro ou computador.

The objects of desire, whose absence is most violently resented, are nowadays many and varied – and their numbers, as well as the temptation to have them, grow by the day. And so grows the wrath, humiliation, spite and grudge aroused by not having them – as well as the urge to destroy what have you can’t. Looting shops and setting them on fire derive from the same impulsion and gratify the same longing.

E isso, inferimos, não é o processo de um dia.

Confirmando a idéia, acima rola a entrevista do Darcus Howe, um senhor local abordado pela BBC para falar sobre os conflitos. Mais que diz-que-me-disse, Darcus apresenta a opinião contundente e embasada de um escritor, ativista pelos direitos humanos e Pantera Negra. Pra quem quiser saber mais sobre ele, a Vice fez uma entrevista que vale ler.

Na entrevista aí de cima, Darcus é tratado com desdém pela reporter que, além de errar seu nome, corta suas falas e tenta direcionar seu pensamento. A BBC acabou se desculpando por seu comportamento que, mas mais que uma gafe, parece seguir um padrão abordado pelo próprio Bauman no seu texto, ao dizer que não-ter extrapola as esferas do prazer e significa viver sem dignidade e respeito dos demais.

Mais ou menos como acontece na Líbia. E no Egito. E aqui.

É nessa vibe que fala o Zizek sobre Londres. Ele diz que vivemos numa sociedade que reforça o ideal do poder de escolha mas, em última instância, apresenta apenas duas opções: viver segundo as regras ou violência (auto-) destrutiva.

Ele também lembra que devemos evitar a tentação narcisista da causa perdida:  mais que pensar nos conflitos que não param de acontecer pelo mundo, devemos pensar que tipo de nova ordem deve substituir a atual, criticada e em séria crise. Pro Zizek, a falta de perspectiva apresentada pelos espanhóis do Democracia Real Ya ao colocar todos os políticos como corruptos e ser incapaz de propor uma alternativa viável, também pode ser vista nos protestos de Londres e no Egito, que  afastou Mubarak e acabou sendo controlado pelo exército do ex-ditador e por grupos religiosos.

They express a spirit of revolt without revolution.

Mas de toda forma, como eu vejo, essas pequenas mudanças são parte de um todo, uma grande e única mudança, que começa de maneira orgânica, das pessoas pro Estado e nem sempre é grandiosa. Talvez as grandes revoluções, que acabam sendo a imposição de uns sobre outros, como Zizek nos conclama a fazer, estejam perdendo espaço. E isso também é bom.

Só que, mais ou menos como foi debatido na última tarde do Diálogos sobre o Sonho Brasileiro, nosso problema atual não é mobilizar, é saber converter essa energia transformadora em ação criadora de novas possibilidades que sejam fortes, duradouras e façam mais que cócegas no sistema criticado. Pra evitar que ela vire, como tantas viraram, desencanto, falta de esperança e tudo-igual.

Alguém tem alguma sugestão? 😀

As imagens são da daquidaqui e daqui.

Um milionário com coração, um político com noção e um herdeiro com assombração?

Posted in Variedades, Video, Youth by Desirée on agosto 22, 2011

Duas notícias chamaram a minha atenção nos últimos dias (mentira, foram mais que duas, porém resolvi escrever sobre essas). Uma foi o artigo “Stop Coddling the Super Rich”escrito por Warren Buffett para o New York Times, onde ele basicamente diz para o governo parar de superproteger quem é milionário e buscar uma equalização dos impostos e dos sacrifícios financeiros entre a galera cheia de grana e nós, reles mortais.

A outra foi ler sobre o deputado federal José Antonio Reguffe  (PDT – DF) e sua iniciativa de baixar o próprio salário e enxugar toda a verba destinada ao seu gabinete, saca só: “Na Câmara Legislativa de Brasília, o político desagradou aos próprios pares ao abrir mão dos salários extras, de 14 dos 23 assessores e da verba indenizatória, economizando cerca de R$ 3 milhões em quatro anos. A partir de 2011, Reguffe pretende repetir a dose, mesmo ciente de que seu exemplo saneador vai contrariar a maioria dos 513 deputados federais. Promete não usar um único centavo da cota de passagens, dispensar o 14º e 15º salários, o auxílio-moradia e reduzir de R$ 13 mil para R$ 10 mil a cota de gabinete.”

Aí eu lembrei do Jamie Johnson, herdeiro da Johnson&Johnson, que fez dois documentários muito interessantes sobre a vida privilegiada dos que nasceram em berço de platina (ouro é tão Glória Perez, OClone). Um chama-se Born Rich (2003) e o outro (praticamente uma continuação do primeiro) chama The One Percent .

Ambos podem ser assistidos na íntegra no youtube

Impressão minha ou os Fantasmas dos Natais Passados andaram visitando esse pessoal aí?

Larica dos Muleke

Posted in Tecnologia, Variedades by mari messias on agosto 8, 2011

Como prova o vídeo acima, faz tempo que comer porcaria na rua deixou de ser coisa de quem não tem tempo, dinheiro ou paladar para comer bem, e passou a ser um estilo de vida. Por exemplo, pros estrangeiros que não tão ligados, Porto Alegre é uma cidade dividida entre quem come cachorro-quente do Rosário e quem come cachorro-quente da República. Mais que isso, boa parte do turismo na cidade é baseado em gastronomia trashera (a/c @dgasparetti), que pode ser conhecida mais aprofundadamente nesse blog de resenhas de XIS, do Floco.

E longe de ser um fenômeno local, as food trucks prosperam no mercado (ainda em recuperação) americano. Com tanta gente comendo na rua, não é de abismar que a nova onda do verão por lá seja criar aplicativos que digam onde estão os caminhõezinhos de comida mais legais, baratos, saborosos e limpinhos. Para achar os mais próximos, saber de eventos e novidades, basta instalar o Food Truck Fiesta ou o Roaming Hunger. Para os mais refinados, os East St. mostra a culinária móvel mais inovadora. Já o Gastrodamus é totalmente baseado no twitter: se alguém twitta sobre uma food truck naquele dia ela aparece nos teus feeds, senão não.

Se tu não ta podendo viajar pra testar esses aplicativos mas quer conhecer as melhores comidas de rua do mundo, o VendrTv é tua escolha. O programa é um videocast de culinária que percorre diversos lugares do mundo há mais de dois anos e eu curto muito. Se tu achou a abordagem muito sutil, vale a pena conferir os hipercalóricos do EpicMealTime. Movidos pelos três Cs: calorias, cachaça e confusão, eles transformam comida em arrependimento mais rápido que nós transformamos salário em dívida.

Acima vocês podem aprender a receita de bacon com bacon, do EMT, que me fez lembrar dessa bela mensagem do  Always Remember:

Casa Brasil 2011

Posted in Design, Eventos, Video by Niege Borges on agosto 8, 2011

Casa Brasil é um evento de design e negócios, com vários expositores do universo mobiliário, designers convidados, seminários e produtos de alto padrão para arquitetura e decoração. Assim, no 4 de agosto, pegamos um traslado em direção ao frio glacial da serra gaúcha para assistirmos as duas palestras do terceiro dia da feira.

A primeira foi do designer alemão Konstantin Grcic, que faz móveis e outros objetos de design industrial para marcas como a Magis, Vitra e Muji (aqui tem uma entrevista bem massa com ele). Ele começou falando sobre como o tempo pode variar de acordo com a perspectiva, por exemplo, certas cadeiras podem ser consideradas atemporais, como a No. 14, feita em 1860 e a Pantom, de 1967, ainda atuais. De acordo com Grcic, isso é uma característica muito boa da indústria moveleira: como é um setor mais perene, o processo de criação pode levar um tempo maior, resultando em produtos mais duráveis. Ele também falou sobre a importância da busca pelo conforto, como o corpo humano se ajusta intuitivamente e como isso influi na maneira que nos relacionamos com os objetos, e consequentemente, no trabalho do designer. Para ele, o ato principal do designer é simplificar as coisas e melhorar a qualidade do produto para que dure mais, como foi feito no seu banco Tom & Jerry, que é um redesign daquele clássico banco de madeira com três pernas, conhecido como workshop stool. Os objetos de Grcic são em geral, minimalistas, compostos por uma única parte e cor, como a Chair One e o banco Miura.

O segundo palestrante foi Fred Gelli, sócio-fundador da Tátil – Design de Ideias, que abordou diversos assuntos sem, de fato, abordar o universo mobiliário, fazendo assim uma palestra inspiracional, como disse. Primeiro, Fred falou em pegar referências filosóficas na natureza para produzir produtos sustentáveis de maneira funcional, apresentando um ventre de uma gestante e uma casca de banana como embalagens naturais e também citando o ótimo Ask Nature. Posteriormente, Gelli apresentou o conceito de usufruidores para substituir os consumidores, onde você utiliza o produto apenas quando há necessidade, o possuindo de maneira coletiva, como o exemplo dado do Zipcar, empresa de car-sharing. O palestrante também falou sobre impressão 3D, apresentando-a como uma solução sustentável com alto nível de customização. Ele concluiu falando sobre co-criação, apontando como o diálogo e a colaboração são benéficos para o processo criativo, mostrando  um vídeo da sua própria agência sobre a criação da marca das Olímpiadas no Rio, onde todos os funcionários participaram e opinaram sobre o resultado final.

Depois das palestras fomos visitar a feira, que este ano teve a intenção de destacar o design e sua importância. Começamos por um pavilhão que demonstra justamente isso, o Salão Design. Lá foram expostos os produtos desenvolvidos pelos vencedores do Salão Design 2011, concurso que mostra o potencial de estudantes e profissionais inovadores do setor mobiliário. O espaço permitia a interação com trabalhos de designers e empresas como Brunno Jahara, Faro Design  e Fetiche Design.

A Casa Brasil deu destaque para a importância do processo de criação do designer, convidando profissionais a criarem produtos e expondo materiais que explicam como foi a execução desses projetos. Diversos materiais foram exibidos em grandes painéis, e dava para tocar e sentir cada um. Ainda nesse espírito de interação e de chamar atenção para a produção e diversidade, foram feitos painéis com materiais de descarte da indústria moveleira, que sintetizam toda a cadeia produtiva que há por trás dos móveis.

Nos outros pavilhões, o evento contou com marcas como Brasita, Casa de Pedra, Finger e Cinex, que optaram por criar ambientes conceituais, que simbolizavam um estilo de vida ligado ao móvel, mostrando que a personalidade das pessoas influi cada vez mais na decoração e cria uma identidade para o objeto. Os expositores também procuraram convidar à interação, seja com touchscreens, 3D ou deixando seus móveis posicionados para que os visitantes sentassem e relaxassem.

Para finalizar, fizemos um vídeo que passa um pouco disso que a gente falou:

Edupunk

Posted in Tecnologia, Web, Youth by mari messias on agosto 3, 2011

Edupunk (poderia ser um user de twitter, mas) é uma abordagem pedagógica que troca o sentar quieto ouvindo tudo e curtindo um power point, por uma vibe bem similar ao punk: rebelde, sem hierarquias e baseada no DIY. Criada em 2008, se disseminou rapidamente e virou uma das muitas vozes na busca por um sistema de ensino menos, bom, menos excludente.

A Anya Kamenetz (do FastCompany) se uniu com a  Gates Foundation pra lançar o ebook gratuito The Edupunks’ Guide to a DIY Credential. O livro é um guia para aprender online e vem cheio de tutoriais maneiros, feito como criar uma rede de aprendizado, encontrar um mentor, pesquisar online, essas coisas. Rola ler ou baixar (de graça, já disse isso?) em uma porção de formatos.

A Anya já escreveu sobre o tema antes, no DIY U: Edupunks, Edupreneurs, and the Coming Transformation of Higher Education.

Ainda sobre esses movimentos de novo aprendizado, que lidam com a tecnologia de maneira saudável e orgânica, bem diferente da que estamos acostumados,  outro livro legal é A New Culture of Learning: Cultivating the Imagination for a World of Constant Change. Esse não tem pra baixar, mas tu pode curtir uns previews nos vários vídeos dos autores, Douglas Thomas e John Seely Brown, disponibilizados no site do livro.

E, enfim, sempre vale ver o RSA Animated do Sir Ken Robinson, que eu coloco abaixo pra vocês, legendado.

The Theatre Bizarre

Posted in Arte by mari messias on agosto 1, 2011

O Theatre du Grand Guignol, ou só Grand Guignol, foi um teatro parisiense especializado em shows de horror naturalista. Entre 1897 e 1962 ele fez grande sucesso e marcou de forma definitiva o gênero. Uma das provas disso é que seu nome virou termo para definir um tipo de entretenimento macabro que é o exato oposto do que o Aristóteles dizia que teatro deveria ser:  muito visual. Pra reforçar a vibe, o espaço do teatro já tinha sido uma igreja e as cabines de ingressos eram confessionários.

E vocês ficam vendo Rocky Horror Picture Show de batom e achando que tão inovando, ein.

Provando que Paris era, de fato, uma festa macabra, na mesma época e no mesmo bairro, existia ainda o Le Café de L’Enfer. Como o nome indica, um café temático do, bom, dos círculos que o Dante nos contou. Já na porta, os visitantes eram recebidos pelo Coisa Ruim himself, que os convidava para entrar nas profundezas da casa e bater um rango, com dizeres: bem vindos e amaldiçoados sejam.

Inspirado por essa estética, The Theatre Bizarre é uma antologia de seis filmes de terror, todos com o mesmo cenário, o mesmo orçamento e total liberdade de criação pros diretores. Os filmes tem no elenco grandes nomes do terror, que vocês podem reconhecer pelo trailer abaixo. Os diretores, não menos foda, são Richard Stanley, Tom Savini, Buddy Giovinazzo, Karim Hussain, Douglas Buck e David Gregory.

Uma curiosidade legal é que Theatre Bizarre também é o nome de uma das maiores festa de halloween americana, que rolava em uma região abandonada de Detroit.

De toda forma, quem quiser se aprofundar no lado negro da cidade das luzes nos dias de hoje pode recorrer ao Paris Ghost & Mystery Tour, ler um dos milhões de livros e/ou o site em homenagem ao Grand Guignol ou, ainda, aprender com Une Saison En Enfer que o inferno não atinge os pagãos.

Aaron Swartz

Posted in Tecnologia, Web, Youth by mari messias on julho 21, 2011

Tu pode nunca ter ouvido o nome do Aaron Swartz, mas certamente já entrou em contato com ele, ainda que indiretamente. O Aaron foi um dos criadores do RSS (com 14 anos!) e agora ele é um conhecido pesquisador de Harvard, programador, escritor e ativista da internet.

Bom, uns dias atrás ele foi preso por acusações de fraude, relacionadas a pirataria. O processo afirma que o Aaron Swartz entrou em computador do MIT pra conseguir acesso ao JSTOR. O JSTOR é um arquivo online de artigos acadêmicos americanos.  De lá ele baixou uma grande quantidade de arquivos que, segundo as autoridades, pretendia disponibilizar pra geral.

O Aaron diz que é inocente, mas em 2008 ele lançou um manifesto chamado Guerilla Open Access Manifesto onde ele nos lembra que o conhecimento produzido pelos sistemas de ensino deveria ser público. A idéia é que os sistemas de ensino criam muralhas para o consumo deste tipo de informação, indo contra seu próprio caráter educativo. Nos EUA normalmente cobrando taxas. Aqui raramente disponibilizando material ou mantendo restrições de alcance e, portanto, do conhecimento em si.

Um tempo atrás fizemos um post sobre isso, mostrando restrições impostas ao ensino superior por processos de copyright. E a contradição que é isso.

E a prova disso é a nova lei americana, que pretende tratar o hacking como uma espécie de atividade terrorista (lembram daqueles comerciais antigões aí de cima? Mesma vibe). Dentro dessa abordagem, Swartz pode pegar 35 anos de cadeia e pagar um milhão de multa.

Vale lembrar que nós, no Brasil, temos um projeto incrível chamado Marco Civil da Internet, mas também temos o projeto de Lei Azeredo. Se tu quiser te manter informado sobre os rumos das nossas leis de internet vale seguir o twitter do Partido Pirata Brasileiro.

Se tu quiser te aprofundar no tema, uma das leituras mais legais que eu já fiz foi Remix do Lessig. No livro ele fala como a falta de alteração da legislação para acompanhar as evoluções do P2P é danosa para nossa sociedade, segundo ele por 4 motivos. O primeiro é que a batalha contra a pirataria está sendo um fracasso. O segundo é fazer com que isso desagregue o valor financeiro da produção intelectual o que, em uma sociedade capitalista, relaciona-se bastante com a idéia de respeito. O terceiro é que a não legalização dessa forma de consumo reduz bastante as possíveis infinitas inovações tecnológicas do setor. E o quarto, esse copio pra vocês, que vale a pena:

But fourth and most important, had we had a system of compulsory licenses a decade ago, we wouldnt have a generation of kids who grew up violating the law. As a recent survey by the market research firm NPD Group indicated “more than two-thirds of all the music [college students] acquired was obtained illegally”. Had the law been changed, when they shared content, their behavior would have been legal. Their behavior would therefore not have been condemned. They would not have understood themselves to be “pirates”. Instead, they would have been allowed to lead the sort of childhood that I did – where what “normal kids did” was not a crime

Update da situação: a prisão do Aaron Swartz tem feito com que muita gente faça upload de pesquisas disponíveis no JSTOR para sites de file sharing. Lindo.

A vida é sonho

Posted in Design, Variedades by mari messias on julho 4, 2011

Fun Theory foi uma iniciativa da Volkswagen defendendo a idéia de que tornar as coisas divertidas é a maneira mais simples de mudar comportamentos para melhor.

Partindo desta idéia, várias cidades do mundo estão incentivando, de maneira divertida, a retomada de seus espaços públicos.

Buscando torná-lo realmente representativo nas artes e no entretenimento, Montreal está reformando seu bairro Quartier des Spectacles. Na tentativa de engajar os moradores a darem sua opinião, sonhos e desejos sobre os futuros do bairro, foi criada a instalação Musée des Possibles (Museu das Possibilidades), uma espécie de versão ao vivo da Give a Minute. Todas estas idéias ficaram expostas ao público, coladas em centenas de balões coloridos. Os favoritos foram escolhidos coletivamente através de pequenos adesivos colados em cada idéia.


Em Helsinki, uma colaboração de cinco estudantes de design, propôs instalações públicas que transformem paradas de ônibus em brincadeiras multi-sensoriais.  A idéia é realizar o Urban Play durante 2012, no World Design Capital e incentivar contato entre desconhecidos.

Criado em 2008, Play Me, I’m Yours ja percorreu mais de 20 cidades do mundo inteiro, incluindo São Paulo.  Segundo seu criador, Luke Jerram, o projeto parte do pressuposto que pianos colocados em vias públicas mudam o comportamento padrão das pessoas:

The idea for Play Me, I’m yours came from visiting my local launderette. I saw the same people there each weekend and yet no one talked to one another. I suddenly realised that within a city, there must be hundreds of these invisible communities, regularly spending time with one another in silence. Placing a piano into the space was my solution to this problem, acting as a catalyst for conversation and changing the dynamics of a space.

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Progredir

Posted in Variedades, Youth by mari messias on junho 20, 2011

Tem algo de quase mecânico no termo marcha que poderíamos ver com olhares desconfiados: marchar por liberdade não seria uma contradição nos seus próprios termos? Usar um conceito militar que remete a simetria estética é o que muita gente fala sobre essas manifestações.

Como se os participantes estivessem lá por prezarem, acima de tudo, um sentimento estético do que uma ação real.

Mas o Aurélio diz que marchar também pode significar progredir, ir em frente.

Partindo disso, admito que vejo a aprovação unânime do STF como um progresso. E acredito que ele é fruto do acordo feito por uma parcela significativa da população, não só por quem saiu nas ruas marchando, de que debater e expor convicções não é, em si, um ato ruim ou inútil.

Agora quando fui pra SP, cheguei exatamente no dia da Marcha pela Liberdade. E, no meio daquele monte de gente, o que eu vi foi uma inquietação que não é brasileira nem paulista. É uma inquietação universal, que parece ter atingido seu ponto alto agora, no momento que estamos vivendo.

Como diz no manifesto pela Democracia Real:

Eu acredito que posso mudar as coisas. Eu acredito que posso ajudar. Eu sei que juntos nós podemos.

Ou na resposta do Anonymous para a OTAN:

Nós não desejamos ameaçar o jeito de viver de ninguém. Nós não desejamos ditar nada a ninguém. Nós não desejamos aterrorizar qualquer nação.

Nós apenas queremos tirar o poder investido e dá-lo de volta ao povo – que, em uma democracia, nunca deveria ter perdido isso, em primeiro lugar.

Ou como diz o pessoal da própria Marcha da Liberdade:

Não somos uma organização. Não somos um partido. Não somos virtuais. Somos uma rede. Somos REAIS. Conectados, abertos, interdependentes, uma mistura de carne e digital.

Essa mistura de online e offline não vem só redefinindo as políticas mundiais. Ela também tem redefinido a forma como pensamos sobre esses assuntos.

A sociológa Zeynep Tufecki fala dessa mistura e do poder disseminador das novas mídias no seu texto Twitter and the Anti-Playstation Effect on War Coverage. Pra ela, a grande diferença está no tom, muito mais do que na capacidade de poder interagir. Além disso, ela fala, que as pessoas confiam mais em conteúdos não curados por empresas (como canais de TV) e sim por especialistas, pessoas envolvidas, de fato, nos processos.

E partindo desses conceitos que o cineasta egípcio Amr Salama está criando Tahrir Square: The Good, The Bad, The PoliticianSalama resolveu transformar seu documentário sobre a revolução egípcia em um projeto colaborativo. Junto das entrevistas, feitas por ele, com pessoas que trabalharam próximas de Mubarak, ele convidou os próprios manifestantes a mandarem seus registros em vídeo ou foto.

The role of social media is to get everyone to know that we all share the same problems, we all share the same needs, we’re all asking for the same rights